Aquela data consubstancia a derrota das trevas e o nascimento de um dia iluminado por um Sol de Esperança. Como resultado dessa resplandecência emergiram a Liberdade e a Paz, como importantes valores a defender por uma sociedade que se pretendia renascida e se pretende rejuvenescida. Foi, essa, a grande mensagem transmitida por toda aquela imensa massa humana que, naquele dia, afluiu à rua, secundando os Militares que derrubavam o regime ditatorial. A consequente deposição de cravos, nas pontas das espingardas, evidenciou e demonstrou, claramente, que é possível, e desejável, que a justeza dos nossos ideais, pode ser atingida com a Força da Razão. A Paz é assim o ingrediente fundamental para a prossecução do objetivo máximo da construção de uma sociedade livre.
Construção, essa, que não tem sido nem é fácil. Há sempre interesses que se opõem aos mais generosos Valores. Passados que são 49 anos sobre o início desta homérica empreitada, muito foi conseguido. Implantou-se a Democracia, como modelo e sistema político. Houve desenvolvimento infraestrutural. Massificou-se a Educação. Generalizou-se o acesso à Saúde. Reconheceu-se o papel da Mulher. As liberdades de pensamento, de manifestação e de expressão foram instituídas. Deixamos de estar isolados da Europa.
Estes são alguns dos aspetos em que a Revolução de Abril contribuiu decisivamente para que fossem pilares da tão almejada sociedade livre.
Contudo, como já referi, esta construção além de não ser fácil, encontra-se também muito longe de estar concluída. Urge, presentemente, questionar se o caminho seguido até agora terá sido o mais adequado e correto. Esta necessidade deriva de evidentes indícios que a sociedade continuadamente traz à colação. Um dos mais reveladores é traduzido pelos elevados níveis da abstenção. Esta denota que os cidadãos, por variadas razões, se demitem de ter uma maior participação cívica na construção da sociedade que ambicionam. Mais do que criticar os cidadãos por esta postura derrotista e conformista, importa sim averiguar do porquê dessa atitude. E então, atuar energicamente no combate às causas desse amorfismo.
Para o efeito, é imprescindível uma alteração da praxis política. A classe política tem de se credibilizar perante os cidadãos. Como fazê-lo? A resposta a esta pergunta terá de ser dada por todos aqueles que verdadeiramente desejam construir uma sociedade mais justa, onde todos, no limite das suas capacidades e aptidões, sejam reconhecidos, valorizados e incentivados a contribuir para a edificação desse desiderato.
Uma sociedade livre, digna desse nome, só será efetivamente atingida, quando todos os seus elementos integrantes puderem e quiserem com o seu trabalho, opiniões e ideias contribuir.
Neste pressuposto, todos os agentes políticos, têm a responsabilidade acrescida de, na sua ação diária, pautarem as suas atitudes e decisões pelo estrito e rigoroso cumprimento do objetivo de irem ao encontro dos reais anseios de todos aqueles que através do voto, depositaram neles a confiança e a inalienável obrigação de solucionar problemas concretos.
Por outro lado, todos os cidadãos, nos quais naturalmente também se incluem os agentes políticos, devem igualmente ser protagonistas e edificadores de uma Democracia efetiva e verdadeiramente participativa, não abdicando de intervir civicamente, de criticar construtivamente, de participar e serem proactivos nas mudanças que desejam ver implementadas e de agirem sob os ditames da Honestidade, da Justiça, da Solidariedade e da Cooperação.
Esta participação e ação cívicas, tornam-se presentemente ainda mais prementes numa época onde, infelizmente, os ideais fascistas, populistas, racistas, misóginos e xenófobos da extrema-direita recrudescem no seio de uma fatia descontente cada vez mais significativa da população.
Só desta forma estaremos todos, diária e permanentemente enquanto Sociedade, a enaltecer o feito heróico de todos os Militares que há 49 anos revoltaram-se contra um regime cerceador da Liberdade e a respeitar, bem como a perpetuar na nossa memória coletiva, e a sermos dignos de toda a resistência e luta de milhares de cidadãos nossos antepassados que durante os 48 anos de fascismo, se sacrificaram e deram inclusive a sua própria vida para que hoje todos nós possamos usufruir da Liberdade e viver em Democracia.
Viva o 25 de Abril!!!
Rodrigo Trancoso
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